terça-feira, 1 de março de 2005

Série VI - Disparates ou a Ignorância Militante . . .


MORALIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS
Quando dei de caras com este título no Boletim Informativo da Junta de Freguesia de Dezembro último, tive um sobressalto. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que a onda moralizadora do puritanismo religioso americano tinha chagado à Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. Um momento de reflexão tornou óbvio que essa hipótese, sem ser de todo impossível, era improvável, de modo que procurei hipóteses alternativas. Pensei então que a Junta tivesse decidido limpar a cidade dos cartazes que mostram um brilhante - das lantejoulas, entenda-se - moçoilo espetando uns paus num bicho que nem sabe por que foi para ali chamado. Mas não. Esta hipótese também não era boa, dada a grande aficción existente. Pensei depois em hipóteses mais perigosas. Tinham decidido impedir qualquer acto menos pudico nos espaços públicos (uma espécie de americanismo religioso soft), como um beijo matreiro à porta do centro comercial, uma troca luxuriosa de olhares entre transeuntes que se cruzam, ou, melhor, os homossexuais de frequentarem espaços públicos. Mas percebi que isso, sem a ajuda dos tais americanos não seria realizável. Por fim, pensei que tivessem tomado medidas para impedir os cães de fazerem certas poucas vergonhas por todo o lado, talvez com um sistema permanente de monitorização vídeo juntamente com uma brigada de intervenção rápida, mas foi rapidamente me apercebi que tal coisa seria suficientemente falada para ouvir falar dela e como não ouvi . . . Depois, percebi que estava a procurar no sítio errado, porque, afinal de contas, isto de sexo, mesmo canino, não tem nada de errado e não precisa de ser moralizado. Pensei, então, que tinham tomado medidas para impedir - ou para permitir? - o aborto ou a eutanásia em público, mas ainda não vi ninguém a fazer tal coisa e certamente isso teria dado muito barulho.
Sem saber o que pensar, resolvi ler o texto, temendo pelo que poderia ter resultado desta veia moralizadora dos nossos ilustres autarcas. Foi então que fiquei a saber que se tratava de recolocação de painéis de publicidade; de racionalização e reordenamento dos passeios; de colocação de nova sinalética vertical e multi-direccional «que reúne, num único elemento indicações de ruas, serviços oficiais, organismos públicos e privados, locais de interesse patrimonial e publicidade [Ah!]; de colocação de abrigos de passageiros, «que era uma falta que se fazia sentir, pois nas suas deslocações à cidade as pessoas tinham de estar sujeitas às intempéries, sem um mínimo de condições para esperar pelos transportes públicos»; de placas para o Parque Industrial, etc.
Ufa! Respirei de alívio. Afinal trata-se destas coisas comezinhas e razoavelmente inúteis com que os autarcas à falta de vistas mais largas, se entretêm a fingir que fazem alguma coisa. Só não percebi por que lhe chamam moralização. Mas, bem vistas as coisas, ainda bem. Posted by Hello